Freud entre suas pesquisas e discussões em 1895, buscou investigar o problema da etiologia das neuroses, e uma importante contribuição foi discorrer as suas possíveis causas, a
saber:

1) Condição/ Hereditariedade: são fatores que por si só são incapazes de produzir algo, porém estão “carregadas” geneticamente, são duradouras e podem ser alterados, mas não suficientes;
2) Causas específicas: seriam referentes ao que chamaríamos de experiências sexuais infantis. São fatores que estão presentes e dependem de quantidade e intensidade, desde que existam condições para isso;
3) Causas acidentais ou concorrentes: estas operam juntamente com as causas específicas e as condições para que se desencadeiem, embora não sejam necessárias, nem suficientes. São situações consideradas estressantes, esgotamento físico, emoções intensas, susto, etc.;
4) Causas desencadeantes: aquilo que poderíamos nos referir como “gatilhos”, precedem imediatamente o surgimento do efeito. Estariam mais relacionadas a fatores temporais.

Dentre estes tipos de causas elencadas, duas são necessárias: a condição e a causa específica. Embora ambas sejam necessárias, elas têm manifestações, observadas por Freud, bem diferentes.

Neste sentido, é importante sabermos que as causas mantêm relações recíprocas entre os diferentes fatores etiológicos e que a carga quantitativa sobre o sistema anímico (sistema nervoso à época) expressa-se significativamente no que tange a sua capacidade de resistência. Isto é, aquilo que possa manter ou retrair este fator abaixo de um determinado limite possui certa eficácia terapêutica, pois faz com que a equação etiológica do surgimento da neurose deixe de acontecer. Aqui, cabe ressaltar que a equação obedece a uma ordem desencadeante estabelecida.

Uma outra observação é que causas e condições podem substituir-se uma a outra no que se refere a quantidade. Isto quer dizer que é possível surgir uma causa etiológica muito grave só que com condições moderadas, ou ao contrário. Neste ponto, um fator muito relevante para o alcance de uma neurose é “sua carga hereditária”, ou seja, é como se o efeito fosse elevado a mais alta potência, porém a forma que a neurose se manifestará vai depender de um fator etiológico específico.

É interessante lembrar o quanto Freud estava convicto em demonstrar seu método de tratamento das neuroses, apontando mais a incidência das causas específicas e suas possíveis alterações, do que as hereditárias.

A hereditariedade tem um caráter de condição já estabelecida que pode multiplicar os efeitos da causa específica. Esta por sua vez, influencia sobremaneira no tipo de afecção formada, nos levando a questionar o porquê de um tipo e não de outro. Diante deste quadro, Freud estava diante de uma importante problemática: traçar as origens da neurose em geral e da neurose em sua singularidade. A princípio, parecem implicarem nas mesmas proposições, porém são problemas distintos. Assim, caberia o questionamento: na formação do psiquismo, importa-nos saber aquilo que é inato ou adquirido?

Freud chegou então a defender no ano de 1896 a existência de transições e graus de disposição nervosa nos familiares e nos indivíduos. Esta linha de pensamento nos revela que do aspecto normal ao considerado patológico há incidência de variações que nem de longe são precisas e claras. Exemplo disso são os ensaios freudianos acerca da teoria da sexualidade e todos os seus aspectos diversificados, desviantes, multifacetados.

Não é por menos que esses escritos foram revisitados e reescritos por Freud inúmeras vezes no período de 1905 a 1925. Ou seja, quando o assunto gira em torno das relações amorosas humanas, nada, nem ninguém é normal. Tudo é passível de estudos, investigações, apontamentos, considerações, pois nos deparamos com uma série de variações e intensidades. É o caso das propensões perversas, considerando que todos nós possuímos disposição em maior ou menor grau. Entretanto, mesmo que tenhamos
intensidades, cabe ressaltar que Freud não deixava de apontar que existiria algo que pode ser considerado dentro de certa normalidade e algo mais próximo ao patológico.

Na questão hereditária, há ainda duas interessantes distinções a comentar: a similar e a dissimilar. A primeira seria mais simples, seriam afecções nervosas semelhantes em todos os casos que não teriam outros fatores etiológicos acessórios. Já a segunda, existiriam vários membros da família afetados por neuropatias orgânicas e funcionais sem que seja possível identificar tanto substituições de uma doença por outra, quanto a ordem de sucessão por gerações. Atrelado a este fato, há pessoas que convivem conjuntamente e não são atingidas pela enfermidade. Uns suportam, outros não. Manifestam ou não. E ainda, “escolhem” determinada forma de neurose em detrimento de outra.

Freud conclui que:

Mas, como o fortuito não existe em patogenia nervosa mais do que em outros
campos, é preciso admitir que não seja a hereditariedade que preside a eleição da
neuropatia que se desenvolverá no membro de uma família predisposta, mas que cabe
suspeitar da existência de outros influxos etiológicos de natureza menos
compreensível, que mereceriam então o nome de etiologia específica de tal ou qual
afecção nervosa. (Freud 1896, p. 145 apud Winograd, 2007).

Encerro estes breves escritos acerca da temática da equação etiológica na certeza de que ainda há muito mais a ser explorado e problematizado, pois até os dias de hoje tem-se a pretensão de discutir as possíveis origens de nossos mais variados tormentos que não só nos acometem como é constituinte de nosso psiquismo.

Referência Bibliográfica
WINOGRAD. M. Disposição e acaso em Freud: uma introdução às noções de equação etiológica, séries complementares e intensidade pulsional no momento. Revista Natureza Humana. Jul-Dez. 2007

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